A letra da música “Esquinas” de Djavan, com seu poderoso refrão “Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar”, nos convida a refletir sobre a profundidade da experiência humana e a complexidade das nossas relações interpessoais. Essa reflexão é particularmente relevante no contexto corporativo, especialmente quando consideramos a saúde mental dos colaboradores.
Imagine a angústia de não ter algo, mas sentir a obrigação de oferecer. Isso não se aplica apenas a bens materiais, mas também a aspectos emocionais e psicológicos. Muitas vezes, esperamos que os colaboradores demonstrem empatia, criatividade e resiliência, sem considerar se eles têm os recursos internos necessários para oferecer essas qualidades. O que eles têm para dar foi moldado ao longo de suas vidas, forjado por experiências pessoais e profissionais. Contudo, esses recursos nem sempre estão acessíveis de forma consciente.
No ambiente corporativo, essa dinâmica pode se manifestar de várias formas. Um colaborador pode parecer desmotivado ou desconectado, mas, na verdade, ele pode estar lidando com desafios internos que não são visíveis na superfície. Para desenvolver um ambiente de trabalho acolhedor, onde todos se sintam valorizados e dispostos a contribuir, é crucial que as empresas reconheçam e abordem essas dimensões interiores.
Uma empresa é o somatório das pessoas que a compõem. Portanto, criar um ambiente saudável e produtivo exige o comprometimento de todos. Não basta estar envolvido; é necessário estar comprometido. A diferença entre envolvimento e comprometimento pode ser ilustrada na metáfora do café da manhã: na relação entre o porco e a galinha, a galinha está envolvida ao fornecer os ovos, mas o porco está comprometido ao fornecer o bacon.
Para que todos estejam comprometidos, é fundamental que as empresas promovam um espaço onde os colaboradores possam explorar e transformar seu interior. Isso inclui oferecer suporte psicológico, incentivar a auto-reflexão e criar um ambiente onde os colaboradores se sintam seguros para expressar suas vulnerabilidades. Quando os colaboradores têm a oportunidade de reconhecer e trabalhar seus próprios desafios internos, eles se tornam mais capazes de contribuir positivamente para o ambiente de trabalho.
A responsabilidade por um ambiente de trabalho saudável não pode recair apenas sobre os ombros da liderança. Todos têm um papel a desempenhar na construção de um espaço acolhedor e produtivo. Isso começa com a consciência de que o que temos para dar no ambiente de trabalho é reflexo do que somos internamente. Empresas que compreendem e valorizam essa dinâmica estão melhor posicionadas para fomentar um ambiente onde todos prosperam, tanto pessoal quanto profissionalmente.
Em resumo, para as empresas verdadeiramente comprometidas com a saúde mental de seus colaboradores, é imperativo reconhecer que cada indivíduo traz consigo um conjunto único de experiências e desafios. Criar um ambiente de trabalho acolhedor e próspero exige um esforço coletivo de reconhecimento, aceitação e transformação dessas experiências internas. Somente assim, todos podem estar verdadeiramente comprometidos com o bem-estar coletivo e o sucesso da empresa.